quinta-feira, 30 de agosto de 2001

Me aconteceu uma coisa inédita. Fui desenhada.
Não vou contar em que condições, mas Deus e todo mundo pode apostar que não foi caricatura.
O artista me olhava e rabiscava, lambia a ponta do dedo e esfumaçava tudo o que tinha feito.
Por pouco eu não dizia - não apaga esse pedaço! - mas quando pude finalmente olhar, a obra
estava perfeita.
Admiro demais esse talento.

Esse cara vê tudo.
Tomei. Tomei mesmo. Todas.
Tava lá na minha frente, aquela garrafinha comprida. Eu já tinha engolido quatro gomos de limão e brincava com os fiapinhos de uma lima-da-pérsia no meio dos dentes, que também já tinha sido traçada com pinga - da boa.
Gastei meia boca num sorriso pro garçon e apontei com o dedo mindinho (pra mais ninguém ver, além dele):
- aquela garrafinha ali.
- Tem certeza? Olha que aquilo pega...
- Pega o que, meu filho, tome tento! Desce a garrafinha, please.
O engravatado nem disse ok, me deu as costas (ele usava mullet - hahaha! - coitado.) e serviu o líquido verde.
Weeellll....abri meu Mac azul ali mesmo, ao som de "Girl you'll be a woman soon" e dedilhei o teclado sem pudores.
Era absinto. Entrei no espírito e expressei minhas impressões. Na lapela do garçon, uma flor enorme girava.
A última coisa de que me lembro foi de ter conversado longamente com um transexual que veio puxar papo, encantado com a minha tatuagem. "Charming..."disse o ser.
"As you like it" - respondi.
Da noite, só sobraram duas lembranças. Um post meio maluco que suscitou dúvidas acerca de minha feminilidade e uma foto (não sei que desnaturado tirou) onde apareço numa fila de cachorras dançando a Macareña.

sexta-feira, 24 de agosto de 2001

Vixxe...
Ela se virou na cama muito disposta a se permitir mais cinco minutos de sono, quando sentiu um volume inesperado contra o colchão. Sequer abriu os olhos, tateou pra ver o que era...bateu o pânico. Seu seio estava enorme. Três vezes o tamanho normal. Pensou em doença, em distúrbio hormonal durante a noite, em algum pesadelo esquisito, em visita da fada madrinha. O peitão continuava lá, e - o que é pior (ou melhor, mais provavelmente) eram os dois, grandes e duros.
Pulou da cama, arrancou a camiseta e fechou a porta do quarto, pra que ninguém descobrisse a novidade esquisotérica antes que lhe ocorresse uma explicação plausível. Também porque era o maior espelho da casa, aquele de trás da porta. Não deu tempo de avaliar os novos peitos. Parou - congelou - olhando para a própria cara, irreconhecível. Sua boca estava delineada com um lápis marrom e os lábios cintilavam no batom dourado. Os olhos....e isso eram olhos? Sobravam pestanas, os tufos de cílios postiços enormes, fizeram-na lembrar da infância, quando tinha medo de uma caixinha com pestanas pretas de mentira que a mãe guardava na gaveta do banheiro, junto com um tubinho micro de cola. Pois agora estavam lá, penduradas nas suas pálpebras.
Pensou em tocar na imagem refletida, mas quando aproximou a mão do espelho descuidadamente, as unhas estalaram contra o vidro. Tão grandes, que a ponta dos dedos não sentiam o frio do espelho. Aquelas eram garras, e estavam pintadas com uma cor intraduzível, com glitter por cima.
Ergueu a sombrancelha - agora finíssima e muito arqueada, tão fake quanto o resto, rabiscada sem vergonha. O que se passava, afinal? Quem era aquela figura esquisita tomando conta do seu pedaço?
Não teve tempo de esperar uma resposta - a empregada entrou sem cerimônia, colocou uma bandeja com café e comprimidos em cima da cama e deu bom-dia sem espanto.
-Aparecida? (ARGH! O que aconteceu com a minha voz????)
- Que é que houve, patroa?
- Você não tá me achando estranha? (a voz continuava errada, como se estivesse se curando de uma faringite)
- Tô não senhora. Tá sentindo bem?
- Aparecida, você não tá vendo a minha cara? Não tá ouvindo essa voz esquisitona? Tá vendo esses peitões, que coisa estranha??
- Ih, dona Arlete, a senhora tá em crise de novo? Quer um chazinho no lugar do café? Já sei, a batalha ontem foi ruim.
- Arlete? Batalha? Aparecida do que é que você tá falando?
- Tá bom, já entendi. Vou lá na rua, buscar sua bota de pelúcia azul no sapateiro, e trago um Calminex na volta, tá? Enquanto isso a senhora fica quietinha aí.
- Aparecida, tá tudo muito errado! Tá tudo muito estranho!!
Não deu tempo de falar mais nada. Aparecida saiu e levou junto um poodle que ela nunca tinha visto na vida.
Pensou em voltar para a cama para tentar acordar de novo, com as coisas como eram antes. Pensou em chorar.
Pensou....pensou...hesitou...deu outra espiadinha no espelho. De cima até em baixo.
- Se eu chorar, vai descolar minhas pestanas.
.....suspiro....
- Acho que virei um travesti.
Não teve coragem para conferir o que tinha por baixo da samba-canção de seda púrpura. O cheiro de Chanel nº 5 que exalava dos - agora longos e louros - cabelos estava a deixando inebriada.
- É isso. Arlete...peitões de silicone...bota de pelúcia azul...É, nega. I will survive.

domingo, 19 de agosto de 2001

Percebi que minhas palavras são muito velhas.
Tudo já foi dito. Não há novidade em falar ou escrever.
Nada de revolucionário, fora do silêncio.
Tudo previsível, tudo repeteco, tudo comum.
Em muitos momentos me identifico com o papagaio histérico da minha vizinha da frente.
"Quando velhas palavras morrem na língua, novas melodias brotam no coração", dizia Tagore.

domingo, 12 de agosto de 2001

Tem umas coisas na vida da gente que são indizíveis.

quinta-feira, 9 de agosto de 2001

-...mas eu só estava tentando ser agradável...que mal há nisso?
- Isso é o que você faz sempre, mas..convenhamos. Não é a melhor estratégia, pelo menos, não o tempo todo.
- E o que você esperava de mim? Que eu mandasse todo mundo se f*(com o perdão da má palavra)? É isso que você chama de estratégia que funciona...faz-me rir!
- De vez em quando presta. Faz as coisas andarem, entende? Vem cá, por que você não fala palavrão? Fala assim, ó, é fácil: se fo-der. Repete.
- Não, obrigado. Prefiro manter a categoria.
- Hehehehe....categoria, né? Tá. Você devia é se meter numa armadura, enfiar um elmo, empunhar uma espada e ensandecer, desferindo golpes a três por quatro!!!
- Ahã.
- Cadê sua armadura? Você tem uma, não tem?
- Mandei polir.
- Quê?
- Mandei polir. Faço isso com frequência. Não saio desarrumado, vc nunca se deu conta?
- Mandou polir....eu sei que você é elegante, mas precisa tanto fricote?
- Não é fricote. O diabo mora nos detalhes. Gosto de seduzir, antes de degolar. Esse é o expediente de um Marte em Libra.



Ming

Quando ela se engasgava, se traía
e a fúria abandonava seu quartel.
E se espalhava, impetrava, se expandia,
pulava a muralha da China,
queimava dragões de papel.
Eu não ligo pra Mandarins,
porém venero os velhos ancestrais.
E se o futuro nas folhas do chá for ruim,
fecho o tempo e caem os temporais
que Lig Lig Lé abomina.
Eu gosto das flores da China.
Me fascina o seu vermelho.
Lig Lig Lé, vem comigo
invadir o Ocidente.
Lig Lig Lé, vem comigo
fritar macarrão.
Lig Lig Lé, vem comigo,
me ajuda a mexer os pauzinhos.
Lig Lig Lé, não liga
pros meus temporais.
O raio e o trovão
são apenas efeitos especiais.

domingo, 5 de agosto de 2001

Aaaahhhhh..sou EU!!
Divina, divinésima estou me sentindo, sendo a primeira entrevistada do Repórter Mosca!
Saí na edição de Domingo, na íntegra!
Eu sabia, sabia que ainda teria os meus quinze minutos de fama.
Thanks, Mosca! Much too kind of you...