quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sintaxe


Minhas mãos em comixões dizem que tenho escrito pouco - o que seria fruto de uma escuta desatenta ao que realmente importa. Não sei se concordo com minhas mãos. Não quero concordar com elas. Justifico-me dizendo que tenho escrito com o pensamento, em janelas e espelhos: tenho deixado marcas em vidraças de cristaleiras, meus dedos marcando o vapor. Justifico-me dizendo que minha palavra, vou deixando nos interstícios da racionalidade que me aprisiona. Por isso, cozinho. Recheio de significados massas doces que deleitam a boca dos que amo e lhes alimentam a alma. Por isso, cozinho silente - derramando significados em caldas. Depois, prometo a mim mesma mudar. Prometo a mim mesma registros da poesia que me trespassa 24 horas por dia. Faço promessas de visibilidade, de ordem no tempo do desejo, de assinaturas. Não sei se posso cumpri-las, mas as renovo a cada fim de ano. Eventualmente, desço sobre papeis e telas o que sei desde sempre - só pra deixar papeis e telas esquecidos e semi-escondidos, aparentemente abandonados, prontos para um escavador de um tempo futuro que dedique-se a descobrir retalhos de mulheres que passaram. Eventualmente, paro e confesso - mas é tudo tão rápido, tão volátil, sem contrição. Eventualmente, tomo coragem e apaziguo o comixão das mãos.