Onde os anos não aparecem...
Nas rugas da testa, não. Nem nos cabelos, que agora eu pinto. Não aparecem nas mãos, que são saltitantes e se movem com autonomia, nem no ritmo do meu passo, porque sempre que eu quero, corro.
Os anos aparecem, sim, nas gargalhadas que já não consigo segurar como antes - ainda que sinta uma certa vergonha depois da explosão. Aparecem no tênis do filho, número 40 e nas contas da amiga que se orgulha dos quase 30 anos de amizade. Aparecem no número menor de garrafas de cerveja, no leite de soja na geladeira e na paciência de semear flores no canteiro, quando eu poderia comprar as mudas crescidas.
Os anos aparecem nos olhos, mas nunca nos sonhos.