sábado, 17 de setembro de 2005

Passei os últimos meses mudando. De casa, de cidade, de vida. Vou mudar mais, ainda. O melhor da mudança tem sido o tempo de pensar. Na estradinha sinuosa que leva até minha nova e temporária casa, eu penso, esqueço, despenso e tenho momentos de êxtase. O verde extasia, o sabiá extasia, o ar frio extasia. Olho tudo ao redor e vejo que onde quer que eu vá, estou sempre no lugar certo.

Voltei a obervar a vida de um outro ponto, mais atrás das lentes dos olhos. Isso me fazia falta, eu andava sem tempo pra duvidar dos pensamentos. Agora ensaio uma nova alforria da mente, feliz por me dar conta que a frase lida no cartaz do consultório do dentista é verdade: a consciência, uma vez expandida, nunca volta ao seu tamanho original.

Celebro a cozinha e a vista para a pedra nevoenta às seis da manhã. As orquídeas florescem, os amigos estão mais próximos do que nunca, porque meu coração se apazigua no silêncio absoluto da noite, só entrecortado pelos cães. As palavras ressurgem, me supreendem por sua imprevisibilidade e começo a me dispor a ser mais disciplinada com elas. É um próximo passo.

O passado bate à porta, mas é a porta da rua. Digo oi da janela do andar de cima e lamento não poder atender agora. Passado passa.

O presente é assim, permanente e abençoado por mim. Tudo ao redor resplandece, e embora às vezes o espelho me pegue de surpresa mostrando os anos e algum cansaço que ficou do caminho, dou graças pelo que o tempo fez de mim.

O futuro é mudança. Espiral-expansão-vida. Vou passar os próximos meses mudando.