Daí, um dia, a nega ressuscitou. Ela tinha morrido fazia um tempo, daquelas mortes meio idiotas, que deixou a nega com cruzinhas nos olhos e paradona, estatelada numa pose ridícula. Fazer o que...essas coisas não se escolhe.
Então chegou o tal dia. Tocou um sininho na cabeça dela e pimba! A nega sacolejou uma perna, ensaiou de abrir um olho, fez um tremilique com o lábio superior e não resistiu: caiu numa gargalhada de dar tosse, uma gargalhada pós-moderna, coquelúchica. Aquela gargalhada espanou o que ainda podia ter restado de morte na nega e ela se levantou, empinada como nunca. Ai, que trabalho...ai que trabalho isso vai me dar, explicar pro povo todo onde é que passei a morte. Falo não. Quem quiser saber, que morra. Dá licença, moço, que eu pego aquele trem ali e se não for agora perco o mês, a folhinha inteira, a estação.
Não se pode deixar de admitir que nega andou esquisita depois de voltar do lado de lá. Perdeu um pouco do...digamos assim...fairplay. Deu pra peitar maluco quando não precisava, ria menos, teve crise de rins. Mas pra sacudir as ancas e bater em couro de gato, continuava sendo ela e mais ninguém. De chicotinho de tamborim na mão, a nega era só terecoteco. Entrevistada no O Batuque, confessou: aos quarenta e poucos, bato mais que aos vinte. Pura verdade.