Tinha uma nêga que tinha um tamborim e um chicotinho de bater tamborim que enlouquecia a bateria inteira. Não porque fôsse exímia em nada - nem no samba, nem no batuque.
Mas é que ela inventava. Em cima da plataforma, fazia de tudo. E as percussões, os passistas, os mestres apitantes e os destaques dos píncaros, ficavam todos irritados. Tudo hesitava e se descontrolava quando a nêga cismava de inventar. Era um passo esquisito, um repique solitário, fora de hora, uma frase que não existia no samba. Era assim que ela sabia o Carnaval. E o resto, se aturdia.
Tinha gente que pensava que ela era louca e se incomodava com os imprevistos da nêga.
Ela nunca se amolou. Não tinha medo. Era feliz, e bem o sabia.