De repente,
toda a cristandade bate à porta.
A longa linhagem se insinua nos detalhes dos meus dias mais comuns, eu vejo e nem sempre sei o que faço com o volume de informações que ela representa. Meus compromissos antigos, meus deuses. Meus amigos deuses.
A longa linhagem se insinua nos detalhes dos meus dias mais comuns, eu vejo e nem sempre sei o que faço com o volume de informações que ela representa. Meus compromissos antigos, meus deuses. Meus amigos deuses.
Hoje respeito
o padre, algumas vezes me compadeço e sinto arrependimento por conta do desdém que nutri por eles
desde muito cedo. Isso talvez seja maturidade. Ou medo de um momento de maior
necessidade de santos e óleos, esse momento que manda cartões postais desde um
futuro nem tão distante.
Das
freiras, nem falo. Tão invisíveis. Essas me remetem a grades e gozos
reprimidos, sandálias e paz interior misturada a intrigas, o milagre da
irmandade. Hábito é uma palavra que associo a amargo na boca.
Todavia,
para além das distrações recorrentes, do circo e da cortina de fumaça saindo de
turíbulos enganosos há dois mil anos, atendo à convocação da linhagem e toco
com a ponta dos dedos num comforto absoluto. O fato é que no alto das montanhas
há mestres que me acolhem – ora com rigor e olhos que prescrutam, ora com
sorrisos e abraços pacientes. Aos pés de um, me despojo do peso das pedras e
choro como uma mãe sabe chorar. Aos pés de outro, me prostro em reverência de
dançarina. Ambos me falam com poemas e charadas, e até quando não entendo nada,
todas as respostas vêm.
Hora de
abrir a porta para a cristandade.