quarta-feira, 2 de setembro de 2015

De repente, toda a cristandade bate à porta.
A longa linhagem se insinua nos detalhes dos meus dias mais comuns, eu vejo e nem sempre sei o que faço com o volume de informações que ela representa. Meus compromissos antigos, meus deuses. Meus amigos deuses.
Hoje respeito o padre, algumas vezes me compadeço e sinto arrependimento por conta do desdém que nutri por eles desde muito cedo. Isso talvez seja maturidade. Ou medo de um momento de maior necessidade de santos e óleos, esse momento que manda cartões postais desde um futuro nem tão distante.
Das freiras, nem falo. Tão invisíveis. Essas me remetem a grades e gozos reprimidos, sandálias e paz interior misturada a intrigas, o milagre da irmandade. Hábito é uma palavra que associo a amargo na boca.
Todavia, para além das distrações recorrentes, do circo e da cortina de fumaça saindo de turíbulos enganosos há dois mil anos, atendo à convocação da linhagem e toco com a ponta dos dedos num comforto absoluto. O fato é que no alto das montanhas há mestres que me acolhem – ora com rigor e olhos que prescrutam, ora com sorrisos e abraços pacientes. Aos pés de um, me despojo do peso das pedras e choro como uma mãe sabe chorar. Aos pés de outro, me prostro em reverência de dançarina. Ambos me falam com poemas e charadas, e até quando não entendo nada, todas as respostas vêm.
Hora de abrir a porta para a cristandade.