sábado, 29 de setembro de 2001

Há pessoas cuja alma não aceita ser engaiolada.
Há outras, como eu, que amarram as asas da alma,
violentam-na para dentro das grades e mantêm-se vigilantes
à porta da gaiola - aberta.
Fingem viver no mundo da normalidade, mas morrem de pavor de uma vingança alada.
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A RESPIRAÇÃO DAS PALAVRAS
**Dos Fundamentos dos Pássaros**

O pássaro é denso mas crispado e tem angústias, medos. Aprendeu a sabedoria de pôr-se a jusante das alamedas e do turvo chão, testemunha das planuras , pouquidões humanas.

Há pássaros óbvios. Outros habitam o peito dos mares e aí parecem-se a peixes e a algas que erram. Os pássaros não deixam tocar-se porque são nus e anunciadores. Raro desfazerem-se das sedas de que são articulados: ponto a ponto. Os pássaros são orgíacos, substantivos, a despeito de seu desarvoramento.

Pássaros são feitos de gritos monossilábicos e pulsam pautados: cascos partindo-se no ar. São o silêncio das claras de ovo, o modo de ser da marcha resolvida dos alados.

Os pássaros expõem-se denodados mas de perfil. Irrompem nas desferidas asas ou as colam ao corpo - depositário das deliberações que exacerbam os arcos, que se dão sempre e quebram-se.

por Maria Elisa Guimarães® (Meg)
(que tem a alma livre)