sábado, 2 de janeiro de 2016

Eu não gosto de segundos cadernos, de cadernos especiais, não gosto de coisas gourmets, não gosto muito de moda que aparece em jornal, nem de espaços descolados. Mas eu adoro a coluna da Ana Cristina Reis. Ela fala comigo.

A Ana Cristina hoje escreve sobre Stephen Hawking, cogumelos e direitos das mulheres. Tudo do meu gosto. Escreve também sobre uma ignorância publicada no Journal of Sexual Medicine, um estudo que relata a depressão pós-sexo. Que pena, que bobagem. Não existe depressão pós nada. A depressão é. Tem gente que se distrai com algumas coisas e depois reencontra a depressão. Aí chama de pós. 

A depressão é um deserto de poeira que levanta com certos ventos e assenta em certas calmarias. A depressão é um deserto onde neurotransmissores passeiam em caravanas. Eventualmente eles estacionam em oásis e bebem chá sob céus estrelados, e aí os ventos trazem nuvens de purpurina,
neurotransmissores dançam alegres num Diwali no deserto. Mas o deserto está, ele não é pré nem pós. Como Lilith, habitante do deserto desde sempre, para quem não faz sentido Stephen Hawking, fim do mundo, cogumelo ou direitos - para quem tudo sempre esteve onde deveria.