Não existe mais estação, o tempo é todo mudança. Há vinte e um anos ouvi
sobre isso, sobre um tempo em que tudo que nos restaria seria o fazer
das mãos, um futuro feito à mão, é disso que se trata o hoje. Que
sejamos atentos ao que passa – mais que o tempo, fluxos e espasmos quase
invisíveis, para os quais a maioria dos meus parceiros humanos não
liga.
Em plutão há geleiras exóticas, uma sonda chamada novos horizontes envia fotos de glaciares e neblinas que sugerem mudança do tempo. Há anos olho para Plutão – nada de Sputnik me assombra. O tempo de plutão é o tempo do meu pulso, acordo e durmo ciente deste minúsculo longínquo fazendo sombras sobre meus dias de sol e noites de lua, sobre um mercúrio febril que se disfarça de plácido desde que cheguei aqui, há quase cinquenta anos.
Em plutão há geleiras exóticas, uma sonda chamada novos horizontes envia fotos de glaciares e neblinas que sugerem mudança do tempo. Há anos olho para Plutão – nada de Sputnik me assombra. O tempo de plutão é o tempo do meu pulso, acordo e durmo ciente deste minúsculo longínquo fazendo sombras sobre meus dias de sol e noites de lua, sobre um mercúrio febril que se disfarça de plácido desde que cheguei aqui, há quase cinquenta anos.
Simples assim – não há placidez nos
gelos de plutão. Não é só sobre os meus cabelos que esse vento sopra,
não é so os meus cílios que ele congela. Do mesmo jeito que a morte, o
frio de plutão nos move a todos – pessoas, samambaias, sonhos e
formigas. Que sejamos atentos ao que passa - no meio do mundo, um calor
senegalês em tempos de sibéria. Isso é raro, sejamos atentos. É tempo de
fazer o pão, cuidar das miudezas, fritar bem um ovo e admirar-se,
beijar os velhos, honrar a mãe. É tempo de morte e isso não deveria
assustar. Em tempo de morte, tratemos de coser bem as mortalhas e cavar
buracos na terra como úteros, porque nas massas de tecidos em terra
úmida tudo é germinar.
É tempo de plutão com suas neblinas familiares – retratos de complexidade já não deveriam causar espanto. Cuidemos do pulso, acolhendo expansão e retração como acolhemos o sono, a fome, a saudade: no melhor dos dias, satisfazendo-nos com a simplicidade. No pior, olhando para o céu com esperança.
É tempo de plutão com suas neblinas familiares – retratos de complexidade já não deveriam causar espanto. Cuidemos do pulso, acolhendo expansão e retração como acolhemos o sono, a fome, a saudade: no melhor dos dias, satisfazendo-nos com a simplicidade. No pior, olhando para o céu com esperança.